segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Os Segredos dos Samurais - Primeira Parte

Origens:
 A origem do nome samurai vem do verbo 'saburau' (servir, seguir o senhor). Segundo o professor Rizo Takeuchi em sua obra "Nihon Shoki" (crônicas do Japão), um dos livros mais antigos do país datado de 720 d.C. existem referências de samurais como "saburai-bito" (pessoa que serve o patrão). No início do período Heian (794-1192) , designava-se por 'saburai' aquele que servisse o palácio da imperatriz, das concubinas do soberano ou príncipes regentes da corte. Nessa época já havia uma hierarquia dentro do palácio para com os 'saburais' , que encaixavam-se acima dos criados e outros servidores comuns.
 Mas, o saburai ainda não exercia funções militares, sendo assim era apenas um serviçal comum que não pertencia a nenhuma classe casta e nem era considerado funcionário militar ou do governo. Não existiam na corte funcionários encarregados de tarefas civis ou militares, ou seja, civis podiam ocupar cargos de comando militar e vice-versa.
 As raízes do samurai, ou indo mais a fundo, de seu espírito, podem ser encontradas segundo os historiadores , em épocas bem mais remotas. Entre os objetos encontrados nos famosos túmulos (kofun), datados entre o século IV , são comuns encontrar armas e outros aparatos de guerra dos mais variados tipos : espadas, lanças, escudos, armaduras, capacetes, flechas e arcos.
 Isso mostra que existiam guerreiros fortemente armados e prontos para a luta, mesmo antes do aparecimento de registros históricos do país, como o 'kanji' (escrita chinesa, só introduzida no século VI no arquipélago nipônico). Nos primeiros séculos da era cristã, foi formando-se o estado Yamato, resultante de muitas lutas e derramamento de sangue entre os grupos tribais e clãs.

Os samurais e as primeiras batalhas:
 A partir do século XI, com as freqüentes rivalidades entre os governadores das provinciais de um lado e os proprietários locais de 'shôen' e 'myôshu' de outro; os proprietários residentes nas suas próprias terras, buscaram apoio dos grandes fidalgos da cidade, os Fujiwara, que tinham o poder de nomear e demitir governadores.
 Os 'shôen' procuraram e obtiveram o direito de recusa da interferência oficial em seus assuntos administrativos e fiscais; mas, essa autonomia dependia de cargos dos altos funcionários (aristocratas) e do próprio governo central, o que constituía uma grave contradição do sistema.
Tudo isso só resolveu-se com o fortalecimento do caráter autônomo dos administradores de 'shôen' e também dos 'myôshu', que foram subindo em importância e tornaran-se aos poucos os efetivos organizadores, mentores da produção de 'shôen' e líderes dos lavradores. Não demorou muito e tornaram-se samurais, embora ainda por por muito tempo mantiveram-se no cultivo da terra. Verificou-se um desenvolvimento do poder econômico e político dos administradores de 'shôen' e 'Myôshu'.

 Os mais poderosos organizaram milícias e travaram grandes lutas junto aos governos provinciais ou até entre si mesmo, apenas com a finalidade de conseguirem terras ou influências. Transformando-se em samurais fortaleceram a união de seu clã, ensinando os lavradores por eles liderados os 'myôshu' e outros a se armar e também a preparar-se militarmente , organizando-se ao lado do pessoal de seu clã 'ie-no-ko'.
Esses elementos no comando de suas forças, evoluíram inicialmente para senhores de uma área mais ou menos limitada, depois para uma ampla região quando eram bem sucedidos em suas disputas e os samurais surgiram não somente do 'shôen' e outras terras particulares, como também dos territórios administrados por governadores provinciais. Isso se deveu a grande autonomia dos 'shôen', que fugiam ao controle oficial.
As terras públicas restantes transformaram-se numa espécie de 'shôen', embora tivessem como seu proprietário legal o governo central. Isto foi mais um exemplo da deterioração do regime 'Ritsuryô', o governador da província não tinha mais o poder de chefe executivo, ficava então reduzido à condição de um simples administrador local de terras públicas chamadas 'kokugaryô' (domínios do governador), que assumiam características de 'shôen', quando o governador as administrava como se fossem suas próprias terras.
 Havia também os governadores que assumiam os cargos na capital, mas não se dirigiam à província. Aproveitavam para si as receitas provenientes de terras que pertenciam ao poder central. O trabalho efetivo de administrar o território da província ficava entregue à funcionários nascidos de famílias importantes ou nobres locais da cidade que , sem ter como progredir no centro (onde mandava de maneira absoluta o clã de Fujiwara), aceitaram cargos administrativos no interior.
 As funções desses substitutos dos governadores era substancialmente igual às dos administradores de 'shôen'. Seus cargos eram hereditários, e esses transformavam-se em proprietários das terras confiadas à sua administração e militarizavam-se. Com isso, então, acabam se tornando senhores autônomos que não mais obedeceram o poder central.

Características de um samurai:
 O samurai tinha como característica peculiar gritar o seu nome frente a um adversário e antes do início de uma luta, o samurai declamava em tom de desafio as seguintes palavras:
"Sou Yoshikyo do clã Minamoto, neto de Tomokyo, antigo vice-governador da província de Musashi e filho de Yorikyo, que distinguiu-se em vários combates nos territórios setentrionais. Eu sou de pequeno mérito pessoal, não me importa sair vivo ou morto deste embate . Assim desafio um de vocês para testar o poder de minha espada".
 Estes pronunciamentos, deixando de lado seu tom estereotipado, de fanfarronice e falsa modéstia constituíam boa prova do bravo orgulho do samurai pela sua linhagem e 'background' familiar. "Na verdade o samurai lutava mais pela sua família e sua perpetuação do que por ele próprio".


 O samurai estava pronto para morrer na batalha se necessário , na certeza de que sua família se beneficiaria das recompensas resultantes do seu sacrifício. Mesmo no início dos tempos o código de conduta do samurai parecia exagerar o sentido do orgulho pessoal e de 'memboku' ou 'mentsu' ("face", traduzido do japonês , que significa honra , dignidade), que muitas vezes manifestava-se em atitudes de arrogância exagerada ou fanfarronice, por parte de um samurai.
 Tal comportamento era considerado natural e até psicologicamente necessário à atitude e ideologia do guerreiro. Mas, com tudo, o exagerado orgulho do samurai, não raro, fazia-o agir de maneira totalmente irracional. Um típico exemplo dessa atitude ocorreu na Guerra dos Três Anos Posteriores: numa das batalhas, um jovem de nome Kagemasa de apenas 16 anos de idade, recebeu uma flechada no olho esquerdo, com a flecha ainda cravada vista avançou sobre o inimigo e matou-o.
 Um companheiro de batalha chamado Tametsugu, tentou ajudá-lo; para retirar a flecha colocou a sandália do pé no rosto do jovem samurai caído. Indignadíssimo, Kagemasa ergueu-se e declarou que embora como samurai estivesse preparado para morrer com uma flechada, nunca enquanto vivo , permitiria que um homem pusesse o pé na sua cara. E depois de proclamar essas palavras quase matou o bem intencionado Tametsugu.

Harikari:
 Um aspecto do código do samurai, que fascinava e intrigava o estrangeiro, consistia na obrigação e dever que um samurai tinha de praticar o 'harakiri' ou 'sepukku' (evisceração), em determinadas circunstâncias.
 Tametomo Minamoto
 De acordo com alguns registros o primeiro samurai a praticar o 'harakiri' teria sido Tametomo Minamoto em 1170 d.C., após perder uma batalha no leste. Samurai lendário pertencente ao clã Minamoto, Tametomo era conhecido por sua descomunal força e valor individual nos combates.
 Participou das famosas lutas do incidente (na prática, golpe de estado) de Hogen (1156 d.C.) , quando membros das famílias Taira e Minamoto misturaram-se com partidários da nobreza em luta na capital Heian. No incidente de Hogen evidenciou-se que o poder efetivo, já estava nas mãos poderosas dos samurais e não nas fracas mãos dos aristocratas da corte.
 Nesse incidente houve apenas uma luta entre os partidários do imperador Goshirakawa e do ex-imperador Sutoku, e apenas nesse combate travado nas ruas de Heian, os partidários do 'tennô' venceram as forças do 'in' ( ex-imperador).
 Existe uma outra versão segundo a qual Tametomo teria ido até as ilhas 'Ryukyu' em Okinawa, no extremo sul do arquipélago, onde, desposando a filha de um chefe local, fundou uma dinastia. Mas, a morte de Tametomo provavelmente ocorreu em 1170 d.C. , após uma derrota ; realizou-se então o 'sepukku', sendo assim efetuado o primeiro 'harakiri' registrado na história dos samurais. Vários motivos podem levar um samurai a cometer o 'harakiri': 01- A fim de admoestar seu senhor. 02- Por ato considerado indigno ou criminoso, ao exemplo, uma traição. 03- Evitar a captura em campos de batalha, já que para um samurai constitui uma imensa desonra ficar prisioneiro do inimigo e também porque é considerado uma política errada; os prisioneiros na maioria das vezes são maltratados e torturados.
 O samurai tem grande desprezo por aquele que rende-se ao adversário. Por isso o código (não escrito) de honra de um samurai exige que ele se mate antes de cair prisioneiro em mãos inimigas.
Como leal servidor, o samurai sente-se na responsabilidade de chamar a atenção de seu amo pelas faltas e erros por ele apresentados. Se por fim, o samurai falhar (o conselho franco ou pedido direto), o samurai-vassalo recorre ao extremo meio de sacrificar sua vida, a fim de fazer seu senhor voltar ao bom caminho.
 Dentre muitos exemplos históricos, existe o de um samurai subordinado que imolou-se para chamar a atenção de seu suserano; isso aconteceu na vida de Nobunaga Oda, um dos mais brilhantes generais da época das guerras feudo nipônicas.
 Nobunaga Oda era violento e indisciplinado quando jovem, ninguém conseguia corrigi-lo. Um samurai-vassalo, que servia à família Oda por muito tempo, praticou o 'sepukku' de advertência. Conta-se que, diante desse incrível sacrifício do devotado servidor, Nobunaga mudou de conduta, assumindo responsabilidades de chefe do clã e marchando para sucessivas vitórias.

Continua...

Matéria Original:
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Nartiis

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